O bilinguismo é uma realidade cada vez mais difundida e valorizada. Muito tem se discutido a respeito, como ele acontece, suas vantagens e desvantagens, a melhor idade, os fatores que influenciam o processo. No entanto, apesar da relevância e recorrência do tema, ainda é comum deparar-se com dúvidas e informações inconsistentes sobre o bilinguismo. Preparamos uma lista com cinco dos principais mitos sobre o assunto para desmistificar alguns conceitos que podem intimidar e confundir muitos pais e professores.
Mito 1: Aprender duas línguas confunde a criança
Esse talvez seja o maior mito relacionado ao bilinguismo. Se fosse verdade, crianças de países oficialmente bilíngues, como Canadá, Suíça, Finlândia, Hong Kong, Índia, Marrocos, Nova Zelândia, Filipinas, Egito, África do Sul, Paquistão, Singapura e muitos outros apresentariam dificuldades em seu desenvolvimento cognitivo e linguístico. Há inúmeras evidências científicas de que as crianças bilíngues se desenvolvem adequadamente nos aspectos acadêmico e social. Estudos têm comprovado que o bilinguismo aumenta a flexibilidade do cérebro, favorecendo o desenvolvimento das habilidades emocionais, cognitivas e motoras da criança. O bilinguismo também melhora o raciocínio, memória, concentração e flexibilidade de pensamento.
Mito 2: A criança bilíngue apresenta atraso no desenvolvimento da fala
Algumas crianças podem apresentar mais lentidão no desenvolvimento da fala quando expostas a duas línguas simultaneamente. Não são todas, no entanto, que apresentam essa característica. Quando a criança é pequena e está começando a falar, pode ser que haja um período de adaptação no qual ela está tentado entender o mundo ao seu redor e os padrões de comunicação usados nos diferentes ambientes. Na aquisição da primeira língua o bebê demora um ano, às vezes dois ou três, para desenvolver a oralidade. Quando uma segunda língua é introduzida em qualquer momento durante ou após a aquisição do primeiro idioma, é possível que a criança passe por um período de adaptação em que ela organiza e diferencia os sistemas linguísticos relativos às duas línguas. Esse ajuste é natural, temporário e não prejudica o desenvolvimento da fala a longo prazo. Lembrando que cada criança é diferente: o que é observado em alguns casos pode não ser observado em outros.
Mito 3: A criança aprende o segundo idioma naturalmente quando é exposta a ele
A exposição por si só não é um fator determinante no aprendizado da segunda língua. Se fosse assim, bastaria criar o hábito de assistir a filmes e escutar músicas em inglês e a criança se tornaria bilíngue. É importante que ela tenha oportunidades para usar a segunda língua em atividades e contextos significativos e praticá-la em diversos ambientes. Sendo assim, apenas exposição à língua e exercícios para decorar palavras e frases de forma descontextualizada não são eficazes. As razões pelas quais o ser humano se comunica incluem o instinto de socializar e satisfazer seus desejos e necessidades, e a linguagem é essencial nesse sentido. É preciso que a criança sinta a necessidade e o desejo de se comunicar na segunda língua, e, para estimular essa prática de forma consistente, ambientes e oportunidades propícios, que ofereçam exposição adequada e promovam o uso da língua, são os mais indicados. Assistir à televisão em inglês pode ajudar, mas não é suficiente para estimular o bilinguismo em sua totalidade.
Mito 4: Apenas crianças podem alcançar o status de bilíngue
Apesar de vários estudos na área de educação bilíngue terem demonstrado que crianças normalmente apresentam mais facilidade para o aprendizado e desenvolvimento da segunda língua, não há indicações de que adultos não consigam tornar-se bilíngues com sucesso. Há alguns fatores que influenciam o processo quando o aprendiz está na fase adulta, como aspectos psicológicos, neurológicos e linguísticos. Os adultos, por exemplo, possuem filtros sociais e emocionais que regulam o processo de aprendizagem da segunda língua. Ao passo em que crianças arriscam-se mais e têm menos medo de cometer erros. O ego dos adultos normalmente é mais protetor, regulando e inibindo atos que possam causar desconforto e vergonha – incluindo o uso de uma segunda língua na fase de aprendizagem. Além disso, o cérebro infantil apresenta mais plasticidade e pré-disposição para desenvolver novas habilidades. Mas isso não significa que um adulto não possa alcançar resultados semelhantes aos de uma criança. Com empenho, dedicação e instrução apropriados é possível apresentar uma performance bastante satisfatória, independentemente da idade. O bilinguismo é uma realidade que todos podem alcançar!
Mito 5: Para criar um filho bilíngue é preciso que os pais falem as duas línguas
Não é verdade que, para a criança se tornar bilíngue, os pais – ou um deles – precisam necessariamente falar as duas línguas. Uma escola, um professor ou um planejamento consistente podem suprir esse quesito. É por isso que a escolha da instituição ou método de ensino deve ser cuidadosa. Com instrução, metodologia e oportunidade adequadas e suficientes fora de casa, é possível que seu filho seja bilíngue sem que você fale alguma das línguas em casa. Além disso, há inúmeras maneiras de os pais estimularem a criança com vídeos, aplicativos, músicas, livros e jogos apropriados e especializados.
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